Dados relativos ao segundo trimestre deste ano confirmam a perspectiva de "forte contração" do Produto Interno Bruto (PIB) no período e sugerem que a atividade atingiu o seu menor patamar em abril, com recuperação "apenas parcial" em maio e junho.
A avaliação está na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (23) pelo Banco Central.
No encontro realizado na semana passada, a taxa básica de juros da economia brasileira foi reduzida em 0,75 ponto percentual, para 2,25% ao ano, atingindo a nova mínima histórica.
Com a "forte contração" do nível de atividade no segundo trimestre deste ano, estimada pelo Banco Central, a economia brasileira entraria oficialmente em recessão técnica, caracterizada pelo tombo de dois trimestres consecutivos do PIB.
No primeiro trimestre deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB encolheu 1,5%.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. A redução do nível de atividade no Brasilacontece em meio à pandemia do novo coronavírus, que tem derrubado a economia mundial e colocado o mundo no caminho de uma recessão.
De acordo com o Copom, a divulgação do PIB do primeiro trimestre confirmou a sua maior queda desde 2015, "refletindo os efeitos iniciais da pandemia".
"Indicadores recentes sugerem que a contração da atividade econômica no segundo trimestre será ainda maior. Prospectivamente, a incerteza permanece acima da usual sobre o ritmo de recuperação da economia ao longo do segundo semestre deste ano", acrescentou o BC.
A possibilidade de uma recessão na economia neste ano já é algo amplamente esperada por economistas.
Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que, sem o andamento das reformas estruturais, a recessão pode se transformar em "depressão".
Diferente da recessão técnica, a depressão é caracterizada por um longo período de desemprego, falências de empresas e níveis reduzidos de produção e investimentos.
De acordo com o Banco Central, o cenário básico considerado pelo Comitê de Política Monetária considera uma "queda forte" do PIB na primeira metade deste ano, "seguida de uma recuperação gradual a partir do terceiro trimestre".
Os economistas do mercado financeiro projetam uma retração de 6,5% para o PIB brasileiro neste ano, ao mesmo tempo em que o Banco Mundial estima um tombo maior ainda, de 8% em 2020. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), a contração da economia brasileira nesta ano será de 5,3%.
Diante deste cenário de forte contração da economia na primeira metade deste ano, o Copom avaliou que impacto da pandemia do novo coronavírus sobre a economia brasileira será "desinflacionário e associado a forte aumento do nível de ociosidade dos fatores de produção".
O Banco Central fixa os juros básicos da economia com base no sistema de metas de inflação, que é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).
Considerando que há um atraso no impacto das decisões sobre a taxa de juros na inflação, neste momento o Copom já mira a meta central de inflação de 2021, de 3%. Com o intervalo de tolerância existente, a meta será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Na semana passada, o BC projetou que a inflação oficial, medida pelo IPCA, deve ficar em torno de 2% neste ano (abaixo do piso de 2,5%) e em 3,2% em 2021. As estimativas consideram a trajetória da taxa básica de juros esperada pelo mercado financeiro.
No encontro da última semana, o Copom informou que foi retomada a discussão, já ocorrida em maio, sobre um potencial limite efetivo mínimo para a taxa básica de juros brasileira.
O BC avaliou que, dada a fragilidade das contas públicas brasileiras, o país já estaria próximo do "nível a partir do qual reduções adicionais na taxa de juros poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos preços de ativos [alta maior do dólar] e potencialmente comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos".
Por conta disso, o BC concluiu que, mesmo diante de uma forte queda do nível de atividade, o "espaço remanescente para a utilização de política monetária [cortes adicionais na taxa básica de juros] é incerto e deve ser pequeno".
"Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no grau de estímulo monetário [nova redução da taxa Selic] será residual", acrescentou.