A China advertiu, nesta sexta-feira (6), que vai "contra-atacar" contundentemente as medidas tarifárias dos Estados Unidos e afirmou estar preparada para pagar o preço de uma guerra comercial que, embora não deseja, não tem medo a ela.
"Se os Estados Unidos persistirem no seu comportamento de unilateralismo e protecionismo comercial, ignorando a oposição da China e da comunidade internacional, a China vai continuar até o final a qualquer preço e contra-atacará contundentemente", garantiu o Ministério do Comércio chinês, através de um comunicado.
As autoridades chinesas responderam desta forma ao presidente americano Donald Trump, que ontem anunciou que estuda impor U$$ 100 bilhões em tarifas sobre a China, adicionais aos U$$ 50 bilhões já anunciados a centenas de produtos chineses, como resposta às tarifas com as quais Pequim castigou Washington esta semana.
"Não queremos uma guerra comercial, mas não tememos ela", reiterou o Ministério do Comércio chinês, acrescentando que observarão as ações que serão tomadas agora por Washington, mas que, "sem dúvida alguma", tomarão novas medidas "para defender com contundência o interesse do país e do povo".
Após criticar novamente o protecionismo adotado por Trump contra o livre-comércio, a China insistiu que vai a seguir com sua reforma e abertura, a proteção do sistema multilateral de comércio e a facilitação do investimento global.
Denúncia na OMC
Como já tinha advertido,Pequim apresentou formalmente, ontem à Organização Mundial do Comércio (OMC) uma denúncia contra os EUA pelas tarifas impostas aos produtos chineses alegando que estas cargas excedem os juros consolidados por Washington e são incompatíveis com o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GAAT).
A crescente tensão entre as duas potências econômicas fez com que o secretário-geral da ONU, António Guterres, insistisse hoje para a necessidade de diálogo, horas antes de viajar para a China onde participará do Fórum de Boao, um encontro de líderes econômicos e políticos considerados o "Davos Asiático".
Tensão entre EUA e China
Na quarta-feira (4), a China anunciou que vai taxar em 25% as importações dos EUA sobre produtos como soja, aviões, carros, carne, uísque e produtos químicos. A medida foi uma resposta direta aos planos do governo Trump de sobretaxar cerca de 1.300 produtos chineses.
O gigante asiático, que é o segundo maior parceiro comercial dos EUA, já tinha anunciado a imposição de taxas para um conjunto de 128 produtos americanos, em resposta às tarifas que Washington anunciou no mês passado sobre as importações de aço e alumínios chineses.
Washington critica em particular o sistema de coempresa imposto por Pequim às companhias americanas. Com o sistema, as empresas que desejam ter acesso ao mercado chinês precisam, obrigatoriamente, associar-se a um grupo local e compartilhar com este sua tecnologia.
Trump sempre menciona também o colossal déficit comercial dos Estados Unidos com a China, de US$ 375,2 bilhões em 2017, para justificar as medidas protecionistas.
Efeitos para o Brasil
As tarifas impostas pela China sobre os produtos importados dos Estados Unidos poderiam favorecer as vendas da soja brasileira para o gigante asiático, caso sejam de fato aplicadas, disseram ao G1 especialistas. Este seria, no entanto, um benefício pontual frente aos prováveis efeitos negativos que a guerra comercial poderia trazer ao Brasil.
?Dependendo de como a tensão entre China e EUA se desdobrar, é possível que as tarifas, se aplicadas, abram espaço para as exportações da soja brasileira no mercado chinês?, disse o diretor da escola de investimentos internacionais do Grupo L&S, Liberta Global, Leandro Ruschel.