O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) se reunirá nesta quarta-feira (6), e a expectativa de analistas do mercado financeiro é que a taxa básica de juros caia de 3,75% para 3,25%.
Se confirmado, o percentual será o menor da taxa Selic desde 1999, quando entrou em vigor o regime de metas para a inflação. A decisão do BC será anunciada por volta das 18h.
A expectativa do mercado é que a taxa básica de juros tenha nova redução em meados de junho, passando para 2,75% ao ano, patamar no qual fecharia o ano de 2020.
A decisão do Copom será tomada em um momento de forte queda do nível de atividade da economia mundial em razão da pandemia do novo coronavírus, o que tem reduzido os índices de inflação.
Diante desse cenário, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a pandemia vai levar a economia mundial a registrar queda de 3% neste ano, o pior desempenho desde a crise de 1929.
Para o Brasil, as previsões do FMI e do Banco Mundial são de retração econômica superior a 5% neste ano. Os economistas do mercado financeiro estimam queda de 3,7%.
Com a forte queda da atividade econômica, os preços têm caído. Em março, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice que mede a inflação oficial, somou 0,07%, menor taxa para o mês desde 1995.
O mercado financeiro prevê que o IPCA ficará em 1,97% neste ano, isto é, abaixo do piso de 2,5% previsto pelo sistema de metas.
Pela regra vigente, o IPCA pode oscilar de 2,5% a 5,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. Quando a meta não é cumprida, o BC tem de escrever uma carta pública explicando as razões.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).
A eventual redução da Selic também afetará aplicações financeiras como a caderneta de poupança e os investimentos em renda fixa. No caso da poupança, a regra atual de remuneração prevê que os rendimentos estão atrelados aos juros básicos sempre que a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano.
Nesse cenário, a correção anual das cadernetas fica limitada a um percentual equivalente a 70% da Selic, mais a Taxa Referencial, calculada pelo Banco Central. A norma vale apenas para depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012.
Se o juro básico da economia recuar para 2,75% ao ano, a correção da poupança seria de 70% desse valor ? o equivalente a 1,925% ao ano, mais a Taxa Referencial.
Ao mesmo tempo em que a queda dos juros básicos da economia diminui a rentabilidade das aplicações financeiras, a redução pode não significar juros menores para os clientes bancários, afirma Miguel José Ribeiro, diretor-executivo da Anefac.
"Em um ambiente desses que tem empresas quebrando, ou que vão quebrar, renegociando dívidas, com a economia parada e com pessoas perdendo emprego e renda, o que os bancos fazem? São restritivos no crédito e aumentam a taxa de juros. Com a inadimplência crescendo e tendendo a piorar, não acredito em redução de juros bancários", disse.
Ele avaliou que os bancos estão apenas defendendo seu dinheiro em um cenário de risco maior de crédito.
Para o diretor da Anefac, uma forma de irrigar a economia com mais recursos e atenuar o impacto da crise é permitir que o Banco Central atue diretamente comprando ativos, como empréstimos e títulos de empresas, como está fazendo o Federal Reserve (o BC norte-americano) neste momento de crise.
Para poder fazer isso, porém, o BC brasileiro ainda tem de ser autorizado pelo Congresso Nacional - que está analisando essa regra essa regra dentro da PEc do orçamento de guerra.
"Quando o Fed [Federal Reserve, nos EUA] percebeu que os bancos 'empoçavam' [os recursos, ou seja, não emprestavam], garantiu as operações, ou comprou os papeis diretamente. E isso fez com que circulasse dinheiro. É uma saída. Essa medida que se pensa fazer é muito bem-vinda", avaliou.