ntra em vigor nesta segunda-feira (20) o pacote de medidas do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para tentar conter a inflação prevista para 1.000.000% neste ano no país. A principal mudança do chamado "Madurazo" será o corte de cinco zeros da moeda local que passa a se chamar bolívar soberano, e o novo câmbio, que prevê 96% de desvalorização da moeda do país.
O bolívar soberano terá 8 notas diferentes e duas moedas metálicas. A maior nota será de 500 bolívares (cerca de US$ 7 no mercado negro).
A nota de maior valor do sistema que começa a sair de circulação é a de 100 mil bolívares, sendo que uma xícara de café custa mais de 2 milhões de bolívares, informa a Deutsche Welle.
A reforma monetária é uma tentativa de controlar a hiperinflação no país. A conversão monetária é a segunda nos últimos 20 anos no país. A primeira ocorreu em janeiro de 2008 sob a liderança do então presidente Hugo Chávez, que retirou 3 zeros do antigo bolívar e criou o bolívar forte.
No domingo (19), os serviços bancários online e os caixas eletrônicos pararam de funcionar na Venezuela. O apagão bancário já estava previsto para adequar o sistema monetário do país às mudanças na economia.
O presidente disse que a reforma irá vincular o bolívar à criptomoeda petro, recém-lançada pelo Estado, sem fornecer detalhes.
Especialistas em criptomoedas dizem que o petro sofre de falta de credibilidade devido à falta de confiança no governo Maduro e à má gestão da atual moeda nacional do país.
"É uma coisa de louco", declarou à agência France Presse Henkel García, diretor da consultora Econométrica, ao considerar que o reajuste dos salários implicará um novo aumento da massa monetária, raiz da hiperinflação.
Outro agravante é a falta de financiamento internacional. A produção de petróleo - fonte de 96% das receitas - desabou de 3,2 milhões de barris diários em 2008 a 1,4 milhão em julho passado, enquanto que o déficit fiscal se aproxima dos 20% do PIB, segundo consultoras privadas.
"Se você mantém o déficit e a emissão desornada de dinheiro para cobrir esse déficit, a crise continuará se agravando", destacou o economista Jean Paul Leidenz.
Novo salário mínimo e gasolina mais cara
Imagem mostra quantos bolívares são necessários para comprar um frango na Venezuela: 14.600.000,00. (Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que o novo salário mínimo do país entrará em vigor em setembro.
O regime de Maduro aumentou o salário mínimo em 34 vezes na sexta- feira (17) . O valor passará de 5.196.000 bolívares (US$ 20,8 no câmbio oficial ou US$ 1,3 no câmbio paralelo) para 180.000.000 bolívares (US$ 728 ou US$ 45,5). Os valores, segundo o presidente, serão pagos já em bolívar soberano.
Outra mudança anunciada por Maduro nos últimos dias foi o fim de subsídios que fazem do preço da gasolina na Venezuela o menor no mundo Em uma tentativa de atingir opositores ao regime, o presidente venezuelano afirma manter a ajuda de custo por dois anos aos detentores do "carnê da pátria", uma espécie de documento de identidade emitida pelo governo desde 2017.
Entre os venezuelanos, desconfiança
O pacote de medidas não agradou os venezuelanos, que convocaram manifestações para esta semana. Especialistas também se mostram céticos com a capacidade desse plano econômico em reduzir o colapso econômico enfrentado pela Venezuela. Com medo, a produção fez fila em supermercados na semana passada prevendo piora na crise de abastecimento do país.
Críticos e analistas dizem que as medidas anunciadas por Maduro não vão aliviar a hiperinflação que assola a nação petrolífera, que segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) pode chegar a 1 milhão por cento até o final do ano.
"O que anunciei na sexta-feira é o ponto mínimo de equilíbrio inicial... para um processo de recuperação necessário dos equilíbrios macroeconômicos... que nos leve a um processo de normalização e recuperação", disse Maduro em a rede social acompanhado pela vice-presidente do país, Delcy Rodríguez.
Crise chega à fronteira com o Brasil
Desde 2015, quando o colapso econômico na Venezuela se intensificou, venezuelanos cruzam diariamente a pé a fronteira com o Brasil em busca de melhor qualidade de vida.
A piora no quadro político no governo Maduro neste ano agravou a crise gerada com fluxo de imigrantes em Pacaraima, município fronteiriço no norte de Roraima. Desde o início de agosto, autoridades batalham na Justiça sobre o fechamento da fronteira com a Venezuela.
A tensão no local piorou no fim de semana, quando moradores brasileiros de Pacaraima entraram em conflito com os imigrantes na cidade depois que um comerciante foi agredido em um assalto cuja autoria é atribuída a venezuelanos. Cerca de 1,2 mil voltaram à Venezuela após o episódio.
Fonte: G1