Em meio à recessão, os investimentos seguem em queda no Brasil. Para especialistas ouvidos pelo G1, esse recuo é um dos principais fatores que continuam puxando o Produto Interno Bruto (PIB) para baixo.
No terceiro trimestre, a Formação Bruta de Capital Fixo, como a taxa de investimento também é conhecida, recuou 3,1%. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda foi ainda maior, de 8,4%. Já no acumulado em 4 trimestres, a perda é de 13,5%. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). O recuo do PIB no trimestre foi de 0,8%.
Os investimentos privados são ligados à expansão do capital das empresas e dependem do quanto a atividade econômica está aquecida e da taxa de juros. Assim, quanto maior a taxa de juros, mais caro fica para obter financiamento e os custos para aplicação de capital. E se não há projeção de crescimento da economia, as empresas tendem a investir menos.
O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, afirma que os dados ?sinalizam que ninguém sabe direito quando vamos sair do fundo do poço?. ?Todo mundo achava que tínhamos passado desse ponto, e não passamos. Cada resultado que sai está pior que o anterior. ?
Velloso destaca que ?o principal fator explicativo da recessão está sendo o investimento, que está caindo sistematicamente acima da queda do PIB?. Além disso, o especialista aponta que ?o consumo continua a perder força?.
O especialista diz ainda que a queda na taxa de juros é esperada para reverter essa tendência. ?Espero que o Banco Central aja hoje, que vai sair a decisão da Selic, e resolva fixar uma taxa com aqueda mais forte?.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve promover nesta quarta-feira (30) o segundo corte seguido na taxa básica de juros, de 14% para 13,75% ao ano. Essa é a expectativa da maior parte dos economistas consultados pelo BC na semana passada.
Alessandra Pereira, economista da Tendências Consultoria, diz que a queda dos investimentos foi o que mais surpreendeu, já que ela esperava queda de 1,5%, e não de 3,1% no terceiro trimestre. ?A gente observa que tivemos um solucinho no 2º trimestre, com alta de 0,5%, mostrando melhora dos investimentos com a produção de bens de capital, de máquinas e equipamentos?, diz.
Mas, para ela, o resultado dos investimentos do terceiro trimestre mostra que a produção e a exportação de equipamentos perderam força. ?Isso traz um cenário difícil para a retomada dos investimentos e temos uma capacidade ociosa. Assim, fica difícil retomar os investimentos nesse contexto?, explica.
Com essa queda nos investimentos, a economista prevê que a retomada do crescimento da economia pode ser mais lenta que se imaginava. ?O cenário de retomada já era gradual, mas parece que está pior do que se imaginava?, afirma.
Julio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), considera que as políticas monetária e cambial travam os investimentos.
?O juro real da economia, mesmo com a queda de 0,25% na última decisão do Copom, está maior com a queda da inflação, e isso trava o investimento porque o financiamento fica mais caro, o que estimula as empresas a aplicarem seu caixa em títulos públicos em vez de ampliar a produção?, explica. Além disso, para ele, o dólar no patamar de R$ 3,40 é pouco competitivo para a indústria e não recupera o mercado que perdeu fôlego ao longo dos anos.
?Isso mostra que os empresários não confiam na recuperação da demanda, porque se acreditassem estariam investindo agora. Investimento você materializa no médio e longo prazo. Então eles não acreditam que a economia terá uma recuperação?, resume.
Agropecuária e indústria
O desempenho dos três setores que entram no cálculo do PIB foi negativo no terceiro trimestre deste ano frente ao anterior. A agropecuária teve retração de 1,4%, indústria, de 1,3%, e serviços, de 0,6%.
No caso da agropecuária, Alessandra previa queda de 1,2%, mas a baixa de 1,4% para ela foi uma queda expressiva. ?A agropecuária surpreendeu, porque no trimestre anterior já tinha caído bastante, -0,8%?, diz. Ela credita a baixa à questão da cultura do milho e do algodão, que tiveram queda de produtividade. Já a queda de 1,3% na indústria não trouxe tanta surpresa, segundo a especialista, já que ela esperava que caísse 1,1%. No trimestre anterior, o setor apresentou alta de 1,2%.