As negociações para um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul continuam nesta sexta-feira (28) em Bruxelas, de olho no Japão, onde os principais líderes dos dois blocos participam da cúpula do G20.
Os ministros das Relações Exteriores da Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai assumiram na quinta-feira à noite as rédeas da discussão com os comissários europeus da Agricultura e do Comércio, bem como com um vice-presidente da Comissão Europeia.
"Ambas as partes estão trabalhando duro para resolver os problemas pendentes", assegurou na quinta-feira à noite uma fonte da instituição encarregada de negociar em nome da UE, anunciando novas discussões para esta sexta.
Entre as principais incertezas a serem esclarecidas está a oferta europeia para a carne bovina, bem como a proteção de certos produtos europeus nos países sul-americanos, segundo fontes familiarizadas com a negociação.
Mas os últimos dias foram marcados pelos desentendimentos entre os líderes da França, Emmanuel Macron, e da Alemanha, Angela Merkel, com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, por conta de sua política ambiental.
"O clima caminha junto com as questões sociais e comerciais, eu não quero fazer acordos comerciais com pessoas que não seguem o Acordo de Paris [sobre o clima de 2015]", afirmou na quinta-feira o presidente francês.
Os dois líderes realizaram uma reunião "informal" e "amistosa" no Japão nesta sexta, segundo um porta-voz do governo brasileiro, que expressou esperança de um acordo comercial "o mais rápido possível".
Merkel, a princípio favorável ao tratado, não poupou críticas na quarta-feira ao desmatamento no Brasil. Bolsonaro respondeu dizendo que a Alemanha "tem muito que aprender" com seu país sobre o meio ambiente.
Iniciada em 1999 e retomada novamente em 2010 após um parêntese de 6 anos, a questão ambiental foi adicionada à lista de preocupações europeias nesta reta final da negociação, juntamente com a tradicional reivindicação agrícola.
No entanto, declarações recentes de ambos os lados do Atlântico sobre um futuro acordo soaram o alarme entre os agricultores e ecologistas europeus, forçando os governos da UE a pressionar diretamente a Comissão.
Os líderes da França, Irlanda, Bélgica e Polônia enviaram uma carta neste mês ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para expressar sua "profunda preocupação" com o impacto de um acordo na agricultura.
Os líderes de sete países europeus, incluindo Espanha, Alemanha e Portugal, responderam com outra carta a Juncker para expressar os benefícios de um acordo, conclamando ambas as partes a "fazer algumas concessões finais".
"O contexto político é bastante carregado na Europa", reconheceu um diplomata europeu, para quem em muitos países ressurge o debate contra acordos comerciais, como aconteceu anos atrás, com a negociação de um pacto com os Estados Unidos.
Se não houver avanço em Bruxelas, a negociação pode passar diretamente ao mais alto nível, à margem da cúpula do G20 na cidade japonesa de Osaka.
O presidente da Comissão Europeia agendou para sábado uma reunião no sábado com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, que detém a presidência pro tempore da organização sul-americana.
Além de Macri e Bolsonaro, pelo Mercosul, do lado europeu estarão os líderes da França e da Alemanha, assim como o da Espanha, Pedro Sánchez, e da Holanda, Mark Rutte.
Se um "acordo político" for finalmente anunciado, será aberto um período para verificar o texto juridicamente e traduzi-lo para as diferentes línguas, antes da sua assinatura final, que deve ser garantida pelos 28 países da UE.
Um eventual acordo comercial que permitiria a redução de tarifas em setores como o automóvel ou a agricultura entre os dois blocos seria um dos maiores assinados pela UE, criando um mercado de 770 milhões de consumidores.
O comércio entre os países europeus e os do Mercosul subiu em 2018 para quase 88 bilhões de euros, com a balança comercial ligeiramente favorável aos europeus em cerca de 2,5 bilhões de euros.